segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Um cartão de Boas Festas, por Rodrigo Viana

Rodrigo Viana (*)



Não tem jeito. Todo Natal é assim: tempo de clausura interna. Deve haver um mecanismo bio/psicológico responsável por esse ato quase mecânico do ser humano ensimesmar-se em dezembro. A explicação pseudo-inteligente é a de que, percorrido o ano, chega o momento de analisarmos objetivos traçados, atingidos ou não. Mas não creio que essa internalização se explique assim, simplória.

Por trás desse aparente movimento reflexivo da alma, há um componente etéreo. Algo que transcende o mecânico-comportamental da época. Não sei dizer do que se trata. Talvez seja aquilo que nos impulsione a enviar mensagens de Natal pré-concebidas, nos slides toma-tempo da internet. Nada contra manifestações virtuais, mas confesso ter saudade de recebê-las pelo correio. Por esta, e outras, vou rabiscar meu desejo de próprio punho.

Escrevo aos que me acompanham a jornada do dia a dia. Também àqueles que me vêem em flashes, somente no de vez em quando da vida. Escrevo com a amargura do remédio que me engole durante o ano. Escrevo porque vivo docemente.

São 365 dias convivendo com pensamentos e sentimentos flutuando no mesmo espectro. São vários “começar do zero”. Vidas e mortes. Esperamos, mesmo contra toda a esperança. Um vir a ser possível, um refazimento.

De minha parte tentei, de todas as maneiras, escolher o lado certo da estrada. Por vezes não consegui. Meu lado humano, imperfeito, fez-se meu maior inimigo. E todo meu esforço do ano foi em combater minhas próprias inferioridades. Muitas vezes não tive forças para encaminhar minha proposta. Ou, simplesmente, fraquejei e aceitei a derrota.

Mas este é um texto novinho em folha. E como todo Natal vem acompanhado do ano novo, é sempre uma oportunidade de recomeço. Nascer, morrer e renascer, tal é a Lei. Nas palavras de Alan Kardek, recolho-me em mim mesmo, nos meus outros “eus” imanifestados. Escrevo minhas verdades maiores e aspirações honestas de um mundo melhor, sabendo que o primeiro passo é sempre meu. A decisão é interna.

Ao contrário da vida, a literatura é imortal, sobrevive aos tempos e ventos. Então escrevo para não morrer. Grito nas palavras um grito mudo e agudo na direção de vocês, caros amigos. Não houvesse esta presença, também não sobreviveria.
Desejo-lhes, por fim, um Natal refletido e um ano novo pós-concebido, mastigado e ruminado na certeza do aprendizado. Quem muito errou pode acertar mais e melhor.

Com o meus honestos votos de um Natal em Cristo e um Ano realmente Novo.

(*) Jornalista