sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O fim e a esperança de ter um novo amor, por Luís Delcides R. Silva

Luís Delcides R. Silva (*)



Assumi a posição diante de uma mulher durante o almoço de domingo. Coloquei-me como ser, homem, tomei postura e declarei o amor que sinto pela “tal” pessoa. Pude tocá-la e senti-la.

Houve tantas carícias, toques, beijos, tantas coisas boas ficaram para trás. Enfim, acabou. Hoje esqueci da “tal”. Estava papeando com uma pessoa super-interessante no MSN. Ao ver algumas fotos dessa outra, esqueci de tudo, esqueci que existia a “tal cheirosa”.

Três da tarde. Correria, envio de releases, follo-up, contato com a imprensa. De repente, o telefone trava. Quem? A “tal” começa a falar. Chama a atenção, fala fanhosa. Contou tudo como foi ontem e começou a dizer que um “amigo” a pegou e deu um “beijaço” na boca dela. Comecei a sentir-me mal, muito mal! Depois silenciei. Não conseguia falar. Entristeci-me, calei... Perguntei se ela ama alguém? Ela disse um sonoro NÂO!

Mais tarde, resolvi ligar e tomar posição. Expressei qual era a minha posição daquele momento em diante. Disse que não iria mais sair com ela. Estava mal. Meu coração sangrava, e muito, ao ouvir a voz dela. Logo, decidi dar um basta às nossas saídas.

Somos amigos. Mas alguns contatos íntimos e caminhadas transformaram uma amizade em um grande amor. Por tantas vezes declarei e não escondi. Fui claro e sincero. Mas ela falou não, optou pelo pode fazer, pode beijar, toques, “mãos-bobas”, mas a amizade continua. O café-com-leite! Onde as coisas se misturam, mas não há uma definição.

Pois é... Mas o meu coração está ferido, triste, com uma vontade imensa de esquecê-la, colocar lá no fundo da história. Eu não quero mais pensar nessa “tal”. Meu coração quer novas alternativas, conhecer novas pessoas. Prefiro a bela morena com que falei hoje no MSN. Ela é linda, maravilhosa e inteligente.

Quero o novo, o melhor para minha vida. Estou pronto para amar, pronto para ter um grande amor. Mas quero alguém que aceite o meu amor, que me aceite como sou e que não tenha medo de se entregar.

(*) Estudante de jornalismo, micro-empresário e escreve para o blog Casos Urbanos www.luisdelcidess.blogspot.com

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Cinco anos, por Fábio de Lima

Fábio de Lima (*)



Um monte de gente nesse mundo acha que um filho nasce depois de uma relação sexual, com quem você ama ou não. E eu não critico essa gente, porque, quase sempre, é assim que um filho nasce mesmo. Mas comigo foi diferente. Eu virei pai da filha da mulher que amei. Sendo assim, minha filha entrou na minha vida como uma menina loira e de olhos azuis. Sempre linda, falante, engraçada e inteligente.

Hoje minha filha faz aniversário. Completa cinco anos de idade. Deve estar uma sapeca e tanto – se eu conheço aquela “malucona”. Faz tempo que não a vejo. Mas filho é para sempre e a distância não muda essas coisas. Não sei se ela ainda lembra de mim. Não sei como está seu cabelo. Não sei como está seu sorriso. Só sei, diante das incertezas da vida, que, para mim, hoje é um dia muito especial.

Eu não sei ao certo o dia que me tornei pai. Talvez tenha sido ainda quando conversava por telefone com a mulher que eu amava, enquanto ela, grávida, conversava com nossa filha, acariciando a barriga. Pode ter sido tempos depois, quando esperávamos os três por atendimento médico durante uma madrugada fria. Quem sabe mais tarde quando a pegávamos na escola. Ou pode ter sido quando fiz, com minhas próprias mãos, um bolo de aniversário. Nunca soube e nunca vou saber.

A minha filha não tem nenhuma obrigação de entender as coisas do coração. Ela nem precisa mais lembrar de mim. O que importa é que eu a amei, a amo e a amarei sempre. Eu não me esqueço dela. Não esqueço das risadas que dei ao seu lado. Voltar no tempo eu tentei, mas não deu certo. A vida é assim. Agora quero apenas dizer parabéns – cantar feliz aniversário, baixinho, sozinho, e sorrir aqui também.

Jamais poderei me arrepender pelo que fiz. Fui o melhor pai que poderia ser. Fui pai com o coração e com a alma. Um dia, enquanto minha filha tomava uma injeção e pediu que eu a protegesse, com olhar e com palavras, tive certeza que eu era um pai como sonhei ser – mesmo que meus sonhos fossem apenas meus. Cinco anos, dez, quinze, vinte...! O tempo é uma coisa inventada pelo Homem. O amor é divino e ele não tem idade. Parabéns e fique com Deus, Beatriz.

(*) Jornalista e escritor, ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Quadrado, por Eduardo Ritschel

Eduardo Ritschel (*)



quarto quadrado
quadro reflexo
linhas oblíquas
imagens refletidas
espectro e prisma

na parede
na janela
na porta

o facho de luz passa pelo vão
decompõe no papel
em sete mil cores

círculo de sol
sombra sob a árvore
nuvens cíclicas
tonalidades de cinza
tempestades
secam e evaporam

na cerca
na calçada
na rua

faro de flores
triângulos vermelhos
volumes retilíneos
caules e raízes
morrem e nascem

agora
a toda hora
no tempo
o tempo todo

(*) Jornalista

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Só mais um recado, por Francielle S. Costa

Francielle S. Costa (*)



Durante algum tempo hesitei em abrir aquela porta, de tal maneira, tempo bem longo por sinal. Passei vários dias pensando o que era certo ou errado, se valeria a pena ou não, mas minha consciência está bem limpa, até. Eu não vou mentir que por várias vezes tentei espiar pela fechadura, pra ver o que realmente havia do outro lado, porque, pra mim, estava sempre tudo escuro, buscava uma fresta que fosse, na verdade um tipo de ''sentido''. Mas parece que o outro lado sempre estava se recuando.

Às vezes parecia querer mostrar um pouquinho de si. Talvez achasse que era transparente, e eu, sempre que tinha uma brecha, aproveitava pra tentar abrir a tal ''tranca''. Mas sempre acabava sendo jogada pro outro lado. Essa curiosidade toda se dava pelo fato de tentar desvendar, de todas as formas possíveis, aquilo que estava ali, bem na minha frente. Acreditava que se conseguisse entrar, poderia compartilhar de muitas coisas boas, como um presente que você rasga depressa a embalagem pra aproveitar o que tem dentro.

Tentei de tudo, mas parece que tudo estava perfeitamente atado, como um nó. O pior de tudo é que eu acreditava que conseguiria, porque queria, e nunca passou pela minha cabeça que o tal ''outro lado'' não queria, de forma alguma, mostrar o que tinha lá dentro.

Ficava se retorcendo todo quando parecia que ia se abrir, e nada. Se fechava ainda mais e, pior, sem nem ao menos dizer ''não perturbe''. Queria que eu continuasse ali parada, esperando. Aquela porta que eu tanto tentei abrir, hoje deu lugar a outras janelas que pensam me assombrar, pacientes, até que eu vá e as feche novamente. Demora, mas o melhor a fazer é deixá-la lá e acenar, de longe, lamentando por não ter feito isso há mais tempo.

(*) Estudante de Jornalismo na Unibrasil (Curitiba-PR)

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A vitrine e o espelho, por Raimundo Antonio

Raimundo Antonio (*)



Às vezes nos deparamos com situações em que a realidade nos foge e mesmo assim nem percebemos. Essa semana, eu, ao passar ao lado de uma vitrine – dessas que existem aos milhares, em lojas de departamentos, principalmente em shoppings – me fiz curioso por ter visto um manequim vestido numa roupa visualmente muito bonita.

Acerquei-me dela e ao me posicionar frente a frente com aquela forma inanimada, vi–me refletido através do espelho – colocado estrategicamente por trás do manequim – dando a impressão que seria eu e não o dito cujo, a estar ali, impassível, distante, solitário, indiferente, a quem ia ou vinha. Tomei um susto, não sem antes ter gostado do que vi... Claro. Eu era o modelo perfeito: o protótipo ideal de consumo onde a cultura de massa nos anestesia e nos transforma em inconscientes consumidores daquilo que não somos, mas queremos ser.

Fiquei parado, imóvel completamente, me admirando, me vendo noutro contorno, lascivamente satisfeito com o refletir assim tão bem acabado de minha escultura. Mas, quase que de pronto, me veio à consciência da realidade a me buscar para mostrar toda ilusão daquilo que estava vendo. Ela devolveu-me o censo e fez-me ver que aquela imagem, primeiramente, capturada pelo espelho da vitrine, não era eu. Não o eu real, apenas uma visão daquilo que os olhos vêem quando querem focar algo, não significando ser aquilo a duplicidade do seu corpo, de sua estrutura.

Em segundo lugar, eu estava pelo lado de fora da vitrine, o espelho pelo lado de dentro, preso em si, sem possibilidade de sair e caminhar. O corpo não tinha cabeça. A imagem refletida era apenas a minha cabeça por trás do boneco, dando a falsa ilusão de que tudo era vivo, móvel, dinâmico.

Tentei sair do campo visual do espelho e levar comigo aquele corpo tão bem-feito, não pela natureza divina, mas por mãos habilidosas em seu ofício, mas, o que consegui foi ver a minha cabeça pensante sumir do espelho e deixar umas roupas bem-acabadas em um boneco sem cabeça. Aí ele ficou feio. Horrível sem cabeça. Já não era a imagem perfeita de um homem por trás do espelho, nem a ilusão passada pelo inconsciente dos que fazem do seu eu a perfeição de querer ser daquela forma.

Fiquei pensando: se nos iludimos tanto achando que aquilo que vemos refletido no espelho é a nossa realidade e que dogmas, regras, valores morais, sociedade, jamais serão frutos de mudanças, damos a entender, também, que jamais conseguiremos transpor os obstáculos que criamos durante nosso ciclo de vida. Ficarmos presos a captura do espelho é não termos consciência de quão valiosa é a nossa individualidade, a nossa identidade particular, característica, somente, de cada um de nós.

A vitrine nos obriga a olhá-la sempre que passamos ao seu lado, mas, parar para observá-la de perto é um desejo inconsciente de sedução de querermos nos transformar em manequins de exposição, sem vida, imóveis, servindo apenas de estereótipo para outras enlaças.

Saí dali receoso por me ver fazendo duas coisas: olhar o manequim de perto e me ver dentro dele; o espelho me deu a sensação de algo novo, inédito, com cabeça pensante e corpo transformado em objeto do desejo, valioso dentro das roupas criadas exclusivamente para atender aos padrões que ora somos obrigados a consumir.

Mais na frente, quase que no meio da rua, feito menino que não sabe andar em calçada, eu parei. Parei e pensei: ora, por que me preocupar com tudo isso? Afinal de contas sou apenas um ser pensante no meio dessa multidão ensandecida pela quimera de ser aquilo que pouquíssimos conseguem alcançar, mas, que se iludem, sempre, toda vez que passam em frente a uma vitrine e dentro dela há um manequim de borracha sintética com roupas da moda e um espelho que os capturam, deixando refletir apenas a fantasia de uma imagem sem vida, fantasmático.

Já sei: da próxima vez que passar por uma vitrine e me sentir tentado a olhá-la, vou me lembrar – antes de ser novamente hipnotizado – que poderá ter lá dentro um espelho para capturar a minha imagem irreal, portanto, para não me fazer cabeça sem corpo; imagem sem sonho e ilusão sem fato, vou me conscientizar que ambos são de vidros, apenas.

(*) Cronista e professor

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Sete três sete, por Marcelo Sguassábia

Marcelo Sguassábia(*)



Sabia que não escaparia ninguém, pelo ruído incomum e pela fissura logo abaixo de uma das turbinas. Nem por isso sua mão tremeu mais ao servir vinho para o grisalho panamenho que dela não tirava os olhos desde o check-in em Los Angeles. A écharpe com centenas de loguinhos da companhia aérea disfarçava o suor frio. Seu olhar ia da taça de vinho à turbina condenada, da consciência do dever à certeza da tragédia, não havia clima nem vontade de corresponder à insinuação daquele homem.

Se tivesse idéia das cinzas a que nos reduziremos, não perderia os últimos momentos nesse joguinho infrutífero. Pense em sua mulher, senhor. Nos filhos, no cachorro, nos negócios, não em mim. Faça um ato de contrição, um nome do Pai, por favor, desmonte esse ar patético de cobiça carnal. Torça para que haja algo acima desses 14 mil pés.

Nenhuma movimentação estranha na cabine, ninguém além dela tinha percebido. Muitos dormiam e passariam do calor das mantas de bordo para o sono eterno sem darem pelo ocorrido. Para o não-ser sem escala e sem stress. Envolveu a taça de vinho do panamenho com o guardanapo.
- Thank you so much (com uma piscadela desavergonhada).

Adeus aos procedimentos protocolares e gestos contidos. Pegou a garrafa de vinho do carrinho de bebidas e começou a sorvê-la no gargalo, olhando de soslaio a turbina com defeito. Afrouxou o nó da echarpe e sorriu cúmplice para os próprios pensamentos. Viu-se a si mesma entre as nuvens, lendo “O apanhador no campo de centeio”.

O panamenho foi buscá-la com mais uma investida.
- Um milhão pelos seus pensamentos.
- Não valem isso. E tenho pra mim que poderiam assustá-lo.
- Isso são modos de uma aeromoça que se preze, beber no gargalo na frente dos passageiros?

Há de ser o primeiro a espatifar-se, pensou. Bem na janelinha da falha mecânica e se fazendo de gostoso. Que seja agora, no pileque, a inconsciência. Explodamos de uma vez.

(Mais um gole, bem sorvido. Trança as pernas).

Caiu sobre uma poltrona vazia e espiou pela janela. Sobre o Saara, agora.

Não cesse essa anestesia boa, quero inexistir feliz. Serão semanas de busca.

Riu.

(*) Redator publicitário há mais de 20 anos, cronista de várias revistas eletrônicas, entre as quais a “Paradoxo”

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Você, meu amor, por Rafael Coelho

Rafael Coelho (*)



Amor que existe
e persiste
até nos versos
mais simples.
Amor que encanta,
me ganha,
conquista
sem manha.
Amor eterno
e terno,
colorido e encantador
que faz-me viajar.
Amor bonito
que me fascina
e me faz sempre
querer te amar.
Amor do jeito
que eu sempre quis,
que Deus me deu
pra ser feliz.
Amor...
Você, meu amor.
Pra sempre,
meu grande amor.

(*) Acadêmico de jornalismo e presidente do portal de notícias www.palavriando.com.br.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O pecado mora ao lado, por Ruth Barros

Ruth Barros (*)



Contos da Mula Manca

Tenho uma amiga muito gracinha, dessas que raramente ficam sem namorado. Quando fica se vira bem em uma paquera avulsa. Nos últimos tempos, depois de algumas histórias meio atrapalhadas, a linda resolveu dar um tempo na dela. Aos que estranharem, uma simples explicação: o fato de existirem bofes e de estar sempre chovendo na horta dela, não quer dizer que sejam nenhuma maravilha. E mesmo maravilhas dão dor de cabeça.


Parece falseta do destino. Ou do destino dela, que eu acho de certa forma invejável. Mas quem nasceu para se meter em encrenca, com e sem trocadilho, pode se afastar da encrenca que ela corre atrás. Pois enquanto ela estava ocupada fazendo outras coisas, como diria o saudoso John Lennon, mudou para o lado um bonitão, daqueles do outro lado da cerca. E a coitada (coitada???) já foi obrigada a rever posição.


Vizinho, ainda mais tão próximo, daqueles que dá para ouvir tossir de noite, apesar da comodidade, é encrenca. No caso dobrada, porque o cara é sério, casado, a família mora longe e o caminho é deserto. E fica aquele pedaço de bom caminho bem à vista, quando não na escuta, para piorar ele é bofe de voz bonita também. Tanto que ela já está mudando de idéia.


“Vou ser obrigada a ir para o mundo de novo, em plena era de lei seca”, constatou ela para mim. “É demais ficar exposta a aparições de vizinho bonitão, ainda mais em época de voto de castidade. E o cara é na dele, não é daquele tipo de fica fazendo gracinha, apesar de algumas vezes ter algumas atitudes surpreendentes.”


Já que ele acaba dando um mole, apesar da reserva, quis saber por que ela, garota de atitude, não tomava alguma. “Lingüiça não corre atrás de cachorro, como sempre disse a minha mãe e eu levei tantas décadas para aprender”, respondeu com ar sério, para depois abrir um sorriso. “Mas como rebateu meu novo amigo gay, lingüiça tem de se mostrar para o cachorro. Por enquanto é tudo que dá para fazer.”


* Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra. É autora do livro “Os florais perversos de Madame de Sade” (Editora Rocco).