Celamar Maione (*)
Sexta-feira, final de expediente. Dagoberto caminhava em direção ao carro carregando um buquê de rosas e uma caixa de bombons quando o celular tocou. Atendeu desequilibrando-se:
- Alô! Voltar para o escritório? Agora mesmo doutor Geraldo.
Em seguida, ligou para Lucinha avisando que adiariam a comemoração pelos seis meses de namoro. Antes de subir, encontrou a secretária do doutor Geraldo na portaria e teve uma idéia:
- Dona Conceição, esse buquê e essa caixa de bombons eram para minha namorada, mas vou ter que voltar para o escritório. Se incomoda de ficar com eles?
Sorridente, Dona Conceição esticou as mãos para pegá-los. Inês, vizinha de Lucinha, saía do elevador e viu a cena.
- Que vigarista, o namorado da Lucinha, cheio de graça com a loira. – pensou.
Quando chegou na vila, a primeira coisa que fez, foi bater na porta de Lucinha.
- E aí, tudo bem?
- Não. – pespondeu Lucinha, mal-humorada.
- Eu sei o motivo. É o Dagoberto.
- Como é que você sabe?
Inês fez suspense. Suspendeu as sobrancelhas. Parecia ter em mente, o segredo que destruiria a terra. Lucinha ficou nervosa.
- Fala! Anda! Você viu o Dagoberto com outra?
- Com uma loira de bunda grande. Entregava para ela um buquê de rosas vermelhas e uma caixa de bombons.
- Filho da mãe! Reunião, né? Mentiroso. Quem será a vagaba!?
- Vai ver é umazinha sem importância. Esquenta, não – falou Inês, falsamente.
- Ele me paga, Inês! Não confio mais em homem nenhum. Fui traída três vezes. Pensei que Dagoberto era diferente. Me enganei – falou com a voz embargada pela emoção.
Depois de envenenar a cabeça da vizinha, Inês foi embora, portando no coração a estranha felicidade dos invejosos. No dia seguinte, Dagoberto tentou falar com Lucinha, sem sucesso. Intrigado com a atitude da namorada, foi procurá-la pessoalmente. Antes, passou na floricultura e comprou um buquê de rosas. Tocou a campanhia, apreensivo. Foi recebido friamente.
-O que você quer?
- Eu é que pergunto. Por que você está fugindo de mim?
- Cara -de-pau, cafajeste e ainda tem o cinismo de perguntar!?
- Isso tudo é porque trabalhei ontem até mais tarde? – perguntou, sem entender.
- Quem era aquela loira da portaria?
- Loira da portaria? Ahhhhhh, sim, a dona Conceição?
- Então é verdade. Existe mesmo uma loira! A Inês tem razão.
- Ela é secretária do Doutor Geraldo.
- Mentira! Você deu um buquê de rosas pra vagaba bunduda!
Cega de ciúme, Lucinha gritava, recusando-se a ouvir Dagoberto. Inês deliciava-se com a briga. Por trás da janela de casa, apurava o ouvido e ria miúdo. Dagoberto silenciou. Foi embora, desanimado, pensando que, por mais que tentasse agradar, as mulheres nunca estavam satisfeitas. Quando passava em frente à casa de Inês, ela o convidou para tomar um café.
Fragilizado, aceitou e presenteou-a com o buquê de rosas. Enquanto conversavam, Inês fazia caras e bocas e jogava os longos cabelos em cima de Dagoberto. Ele despediu-se prometendo ligar no dia seguinte. Duas semanas depois estavam namorando. Para provocar a vizinha, num sábado chuvoso, Inês propôs ao namorado ficarem em casa assistindo um filme no DVD. Dengosa, ainda pediu:
- Quero que você me traga rosas vermelhas. Faço questão que sejam vermelhas!
Lucinha estava na janela quando viu Dagoberto entrar na vila com o buquê de rosas. Cheia de saudade, esperou, ansiosa, ele tocar a campanhia da sua casa. Não entendeu quando o ex se dirigiu para a porta da vizinha. Confusa e com o coração acelerado, perguntou para a irmã adolescente:
- Cibele, você sabe o que o Dagoberto está fazendo na casa da Inês?
- Ué, você não sabe?! Todo mundo na vila sabe. Estão namorando. Você não jogou o cara no lixo?! A Inês foi até a lixeira, sacudiu, passou paninho e pegou pra ela.
- Filha da mãe! Essa vadia me paga!
Saiu de casa com gosto de sangue na boca. Tocou a campanhia da rival, franzindo a testa, sacudindo as pernas e babando de raiva. A outra abriu a porta segurando o buquê, para provocá-la . O bate-boca começou . Aos gritos, Lucinha ordenou, descontrolada:
- Chama o Dagoberto! Quero falar com ele!
- Queridinha, Dagoberto agora é MEU NAMORADO! – respondeu cinicamente.
- Seu é o cacete ! Ele é meu, sua vagaba fofoqueira!
Começaram a se estapear. Rolaram no chão, amassando as rosas e machucando-se com os espinhos. Enquanto a vizinhança separarava a briga, Dagoberto saiu discretamente, prometendo nunca mais voltar. Na rua , encontrou um amigo de faculdade.:
- Dagoberto, o que você faz por aqui? Já casou? – perguntou brincando.
- Casar? Mulher é boa de vez em quando, se chegar muito perto, dá alergia. Principalmente na tal da TPM. Casamento é para os corajosos. Eu sou covarde.
- Então que tal um chope para comemorarmos o nosso reencontro e a vida de solteiro?
Entraram no botequim mais próximo. Com o copo de cerveja no alto, Dagoberto engrossou a voz e gritou para descontrair:
- Um brinde ao Flamengo! Dois a zero amanhã!
- Tá brincando! 3 a 2 Flusão! E de virada! Com o terceiro gol saindo aos 45 do segundo tempo. Aposta quanto?
Beberam até o dia clarear. O domingo nublado prometia um clássico para ficar na história.
(*) Radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
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