Fernanda de Aragão (*)
Tá, vocês venceram, eu me rendo! Rendo-me ao meu sol em libra e ao meu ascendente em capricórnio, mas só porque eu quero ver estrelas; meses sem gozar. Até pela lua que está em peixes, seja lá o que isso signifique, eu me rendo!
Rendo-me à possibilidade de cruzar os meus três signos com os três signos dele; é que com nove combinatórias para brincar de dar certo eu finalmente poderei tirar as rendas da gaveta. Vermelhas, pretas, marciânicas, netúnicas. E com marte em libra, vênus em libra, a vida na balança, eu me rendo para livrar-me de todo cio sem ópio, amém.
Já peguei as taças para um brinde à minha casa sete, em que plutão-ão-ão-ão está passando, entrando, gritando. E eu, no sussurro: vem, vem, vem logo, vem plutando, qualquer coisa que isso valha. Mercúrio em virgem. Ahm. Netuno em sagitário. Ahm. Júpter em gêmeos. Ahm. Onde será que se goza num mapa como estes? Não sei, não sei, não sei. Em troca, profecias.
Você tem talento para descobrir irregularidades. Hum, e isso serve para? Tem novas idéias para a educação. Hum, e isso me adianta de? Você é crítica. Tá! Qual mulher que já passou dos trinta não o é? Oradora convincente. Aham, dá pra chegar logo ao que interessa? Gosta de detalhes, literatura, pesquisa científica. Hum, hum, hum. Gosto de blá blá blá também, não tá escrito aí não? Cadê? Cadê? Cadê?
Mente aberta e criativa. Rá! Nem conto o quanto, paga pra ver, paga (pega, gira, alucina). Originalidade, vivacidade, alegria. Óquei, tudo isso eu entendi e já sei de cor: monótona, jamais. Temperamental, às vezes, porque ninguém é perfeito; mas generosa, amável, cooperativa. Opa! Então é isso, eu sou mais santa do que puta. Como gozam as putas? Bruna Surfistinha, com aquele relato "então ele me virou de quatro e me fodeu e ponto final", me parece nonsense. E as santas, como fazem? Queria ser homem pra descobrir a diferença. Algum se habilita a me contar? Para Aldir Blanc, entre a santa e a meretriz só muda a forma com que as duas se arreganham. Muda?
Com muitos talentos, a pintura, a música, a escultura são adequadas ao seu dia-a-dia. Tá. Tá. Tá. Tá. Cansei, cansei, cansei da mulher de libra. Vamos à de dragão, ascendente em serpente. Sabe-se lá, mas eu me rendo! É que a esta altura os cinco signos dele mais os meus já somam vinte e cinco chances para uma noite dos deuses: Júpter em Vênus, Netuno em Vênus, Mercúrio em Vênus, Marte em Vênus. Tudo em boa combinação: a parte de cima com a de baixo, queijo com goiabada, o que tá vazio e o que preenche. E lá na gaveta – esperando, esperando, esperando –, anágua sem corpo, espartilho sem pele, cinta-liga sem volume, meia sem arrastão, salto sem agulha.
Bah! Quem é que dá as cartas, afinal? E, pelamordedeus, que nelas não me apareça nenhuma Minerva no meio do caminho. Embaralha direito, corta certo, pega minha energia de jeito ou eu vou para as últimas instâncias jogar búzios, lançar pê-pê-ô com turbante na cabeça, fazer reza forte, mandinga, costurar boca de sapo com o nome dele, com o nome dela. E... voilá, com arcanos menores e maiores, todos em meu favor, fica fácil gozar com o valete de espadas no quarto lunar. Na torre não porque é rompimento na certa, diz o tarô.
Então, que suba o rei de paus. Truco! Com o imperador? Oba! Mão de onze para a dama de copas. Que belo zap pra cima da manilha, hein? Chama de novo, que eu topo! Melhor de três e não se fala mais nisso. Mas você prefere os números. Por mim tudo bem, a gente combina lá também, ao quadrado, ao infinito, na potência que for: forte, fraco, meio a meio, de lado como na geometria ou medindo a raiz quadrada, tomando o volume, vendo o diâmetro, calculando o raio. Ângulo de cá, ângulo de lá. Até na medição do vácuo. E você vai poder tirar a prova dos nove, se quiser. Dos dez, dos doze, dos quinze. No final vai restar um eu e um você. É sempre assim: um mais um mais um mais um mais um mais tantas vezes quantas forem precisas. Para o número que for sempre seremos dois inteiros, o que é bem melhor do que duas metades.
Se somarmos o valor das letras dos nomes: dois inteiros, o meu e o seu.
Se somarmos os dias do nascimento: dois inteiros, o meu e o seu.
Lindo isso de numerologia, de contar só a primeira parte do nome, ou só o apelido, ou o nome todo, ou começo e o fim. E com um tanto de meios, jeitos, tipos, formas, contas, preâmbulos, runas, i-chings, koans, mos, quiromancias, conchas, mandalas, cabalas, anjos, gnomos e o diabo a quatro, haverá o dia, a hora, o minuto e o segundo em que, cosmicamente, cruzaremos como cometas lancinantes. Rojões opiáceos explodindo tanto na terra quanto no céu. E nessa hora, buraco negro de cá, ou de lá, tanto faz. Olha que até realejo tem, se você estiver afim, mas quando se trata de gozo astral, que tal o Kama Sutra?
(*) Jornalista
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
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