Talis Andrade (*)
Um livro de poesia sagrado livro
livre das mãos sacrílegas
e das fogueiras da Santa Inquisição
Livre das traças
da decomposição das folhas mortas
da putrefação pelo mofo -
o bolor do tempo
O verdadeiro livro passa de mão e mão
na leitura diária confortadora e amante
Inadmissível fique fechado empoeirado
ocupando rico espaço em uma estante
(Do livro “Vôo de Pássaro no Azul”).
(*) Jornalista, dirigiu os jornais “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Poeta, tem 12 livros publicados
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Possibilidades, por Eduardo Pragmácio Filho
Eduardo Pragmácio Filho (*)
Um cardápio de sonhos
aberto sobre a mesa
redonda e invisível,
onde o alimento é palavra,
possível chão ou precipício.
A escolha é dolorosa
e dela parte uma distância insalubre.
É como flutuar
sobre um mar de medos
a espera da queda.
É onde os pés afundam,
nas dunas
que se movem na palidez
dos ventos
(Do livro “Oblívio da ilusão”, Editora Imprece – Impressora do Ceará – Edições Poetária – Fortaleza/CE).
(*) Poeta de Fortaleza/CE.
Um cardápio de sonhos
aberto sobre a mesa
redonda e invisível,
onde o alimento é palavra,
possível chão ou precipício.
A escolha é dolorosa
e dela parte uma distância insalubre.
É como flutuar
sobre um mar de medos
a espera da queda.
É onde os pés afundam,
nas dunas
que se movem na palidez
dos ventos
(Do livro “Oblívio da ilusão”, Editora Imprece – Impressora do Ceará – Edições Poetária – Fortaleza/CE).
(*) Poeta de Fortaleza/CE.
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Era pó, mas sangrou-lhe o destino, por Eduardo Murta
Era pó, mas sangrou-lhe o destino, por Eduardo Murta
Eduardo Murta (*)
Há um odor furtivo de sangue marejando às memórias de Jurema. Num vaivém de quem jamais soubera, ao certo, se tinha mais medo de viver ou de morrer. Menina ainda, topara com aquele sentimento ambíguo: o de que lhe faltava luz nesse plano terreno, mas sob a torta convicção de que a escuridão, para além desses muros, seria assustadora. Assim, o tanto que lhe minguava em coragem para resistir era a mesma medida do temor em desconectar-se de vez do mundo.
Talvez tenha nascido aí o fascínio – ou a entrega – pelas experiências que invariavelmente roçavam o limite. Aos 12, ter-se inscrito e sido aceita no papel de tratadora oficial de leões e tigres do zoológico local. Há os que não creem, mas dela se conta passeando nas jaulas, acarinhando os animais. Detalhes preciosos: olhos fechados, e cantando canções de Natal, inda que Carnaval fosse.
Dois anos de ofício, nenhum arranhão sequer, e se convertera em fenômeno nacional. Mais tarde, em caso mundial. E a exposição meteórica, no fundo, lhe embrulhava o estômago. Como a revelasse nua, expusesse fraquezas. Foi se afastando e, numa tarde despretensiosa, partiu sem deixar rastros. Difícil seria resistir a qualquer coisa que desafiasse os manuais de sobrevivência.
Não é que Jurema, o corpo moreno já tomando formas de mulher, se pôs em maiô com lantejoulas para virar atração em circo mambembe! Cinco segundos de suspense, os tambores rufando, e os holofotes ao picadeiro. Vejam ela cruzar, em sombrinha cor de rosa, os 50 metros de corda bamba. Nenhuma rede de proteção abaixo.
Breve haveria morte. De outros, tragados em pura ansiedade. Duas doninhas, um velhinho e até um menino fraquejariam de coração, ela de ponta cabeça, uma só mão no apoio. Foi o bastante a que suspendesse as sessões e se recolhesse ao banzo do isolamento. Durou pouco. Logo estaria serpenteando de novo o fio da navalha: agora no papel de garota do atirador de facas. Um homem cego.
Ambrósio, mestre nos sentidos que lhe restavam intactos, se guiava pelo som da cabeleira de Jurema cortando o vento, fixada à tábua giratória. E pelo perfume lhe exalando aos poros juvenis. Aroma rascante. Lançava, e as lâminas se cravavam a milímetros da orelha, a um dedo da axila esquerda.
Naquela noite, os cenários em preparação, lhe visitou um súbito sentimento de que era hora de pôr ponto final àquilo. Hesitou uma vez mais entre fugir ou mergulhar nos vãos em que só vislumbrava trevas. Foi ao palco careca. Desperfumada. Desarmou as bússolas de Ambrósio. Ele, sem chão, relutou. Suspirou. Mas não desistiu. Fez sete disparos mais que às cegas. Errou. Melhor: acertou. Só um sangue breve à têmpora direita, de raspão e nada além.
Golpeara em cheio o medo cristalizado em Jurema. Resumira dilemas a pó, em iluminada catarse. Ela chora ao lembrar, e a meninada gargalha, ao ouvir-lhe a história como voluntária na ala de pacientes terminais. Aos 113 anos, tudo lhe soando claro, absoluto. Era mulher definitivamente condenada a viver.
(*) Jornalista, autor de "Tantas Histórias. Pessoas Tantas", livro lançado em maio de 2006, que reúne 50 crônicas selecionadas publicadas na imprensa. É secretário de Redação do jornal Hoje em Dia, diário de Belo Horizonte. Já teve passagens também pelos jornais Diário de Minas e Estado de Minas, além de Folha de S.Paulo e revista Veja. É um dos colunistas do Hoje em Dia (www.hojeemdia.com.br), onde publica às quartas-feiras.
Eduardo Murta (*)
Há um odor furtivo de sangue marejando às memórias de Jurema. Num vaivém de quem jamais soubera, ao certo, se tinha mais medo de viver ou de morrer. Menina ainda, topara com aquele sentimento ambíguo: o de que lhe faltava luz nesse plano terreno, mas sob a torta convicção de que a escuridão, para além desses muros, seria assustadora. Assim, o tanto que lhe minguava em coragem para resistir era a mesma medida do temor em desconectar-se de vez do mundo.
Talvez tenha nascido aí o fascínio – ou a entrega – pelas experiências que invariavelmente roçavam o limite. Aos 12, ter-se inscrito e sido aceita no papel de tratadora oficial de leões e tigres do zoológico local. Há os que não creem, mas dela se conta passeando nas jaulas, acarinhando os animais. Detalhes preciosos: olhos fechados, e cantando canções de Natal, inda que Carnaval fosse.
Dois anos de ofício, nenhum arranhão sequer, e se convertera em fenômeno nacional. Mais tarde, em caso mundial. E a exposição meteórica, no fundo, lhe embrulhava o estômago. Como a revelasse nua, expusesse fraquezas. Foi se afastando e, numa tarde despretensiosa, partiu sem deixar rastros. Difícil seria resistir a qualquer coisa que desafiasse os manuais de sobrevivência.
Não é que Jurema, o corpo moreno já tomando formas de mulher, se pôs em maiô com lantejoulas para virar atração em circo mambembe! Cinco segundos de suspense, os tambores rufando, e os holofotes ao picadeiro. Vejam ela cruzar, em sombrinha cor de rosa, os 50 metros de corda bamba. Nenhuma rede de proteção abaixo.
Breve haveria morte. De outros, tragados em pura ansiedade. Duas doninhas, um velhinho e até um menino fraquejariam de coração, ela de ponta cabeça, uma só mão no apoio. Foi o bastante a que suspendesse as sessões e se recolhesse ao banzo do isolamento. Durou pouco. Logo estaria serpenteando de novo o fio da navalha: agora no papel de garota do atirador de facas. Um homem cego.
Ambrósio, mestre nos sentidos que lhe restavam intactos, se guiava pelo som da cabeleira de Jurema cortando o vento, fixada à tábua giratória. E pelo perfume lhe exalando aos poros juvenis. Aroma rascante. Lançava, e as lâminas se cravavam a milímetros da orelha, a um dedo da axila esquerda.
Naquela noite, os cenários em preparação, lhe visitou um súbito sentimento de que era hora de pôr ponto final àquilo. Hesitou uma vez mais entre fugir ou mergulhar nos vãos em que só vislumbrava trevas. Foi ao palco careca. Desperfumada. Desarmou as bússolas de Ambrósio. Ele, sem chão, relutou. Suspirou. Mas não desistiu. Fez sete disparos mais que às cegas. Errou. Melhor: acertou. Só um sangue breve à têmpora direita, de raspão e nada além.
Golpeara em cheio o medo cristalizado em Jurema. Resumira dilemas a pó, em iluminada catarse. Ela chora ao lembrar, e a meninada gargalha, ao ouvir-lhe a história como voluntária na ala de pacientes terminais. Aos 113 anos, tudo lhe soando claro, absoluto. Era mulher definitivamente condenada a viver.
(*) Jornalista, autor de "Tantas Histórias. Pessoas Tantas", livro lançado em maio de 2006, que reúne 50 crônicas selecionadas publicadas na imprensa. É secretário de Redação do jornal Hoje em Dia, diário de Belo Horizonte. Já teve passagens também pelos jornais Diário de Minas e Estado de Minas, além de Folha de S.Paulo e revista Veja. É um dos colunistas do Hoje em Dia (www.hojeemdia.com.br), onde publica às quartas-feiras.
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
Bom princípio, por Marcelo Sguassábia
Marcelo Sguassábia (*)
Sou o seu leiturista de água. Você não me vê nunca eu nem bato na porta nem nada, mas eu leio direitinho o seu relójo uma vez por mês e sou amigão dos cachorro, trato tudo eles que nem gente. A caixinha de natal é o momento cristão e bem-vinda de coração e alem do mais ajuda na leitura certa o resto do ano. Data da próxima leitura e entrega do ano bom: dezessete do corrente, tenho o crachá pessa que eu mostro. Agradecido Zezão em ritimo de gingobel
********
Não se confunda com outros que fazem passar-se por nós, os seus lixeiros de todos os dias inclusive feriado e finado. Por isso pedimos e meressemos o bom princípio. Somos os lejítimos Janelson, Totonho, Rudisson e Rixacleiderman (o popular Rixa). Se outros baterem, faça que não escuta e espere nós passar (lembramos que passaremos dia 23 de manhã como costume).
********
Desejamos um feliz natal
E um ano novo muito agradável
São estes os sinceros votos
dos seus coletores de lixo reciclável
Não se esqueça do nosso bom princípio. Faremos a coleta amanhã.
********
O senhor ja parou pra pensar, bem como sua(s) dignissima(s) família(s), como seria sua vida sem ver as oferta do supermercado e do varejão, pois é muito sem graça que seria sem os folheto que eu deixo na caixa de correspondença. Fico feliz com o presente vosso pode ser moeda.
********
A boa notícia pra mim vai ser receber uma caixinha bem gorda. Conto com você do mesmo jeito que você conta comigo pra receber o seu jornal de todos dia.
Ari, o entregador
********
Fui eu que cubri as féria do Ari, no mês 6 do corrente. Espero ganhar pelo menos o valor de um doze avo do tanto que você vai dar pra ele. Esse é o desejo do Jonas, o entregador que vem no lugar do Ari nas féria e tamem quando ele bebe muito e não concegue levantar cedo.
********
Sou o dono da gráfica rápida que fez os cartões. Espero que o ano que se inicia comece magnífico e termine espetacular e aproveitamos o ensejo para divulgar que o milheiro de cartão de visita está em promoção especial de 49,90 obrigado.
(*) Redator publicitário há mais de 20 anos, cronista de várias revistas eletrônicas, entre as quais a “Paradoxo”
Sou o seu leiturista de água. Você não me vê nunca eu nem bato na porta nem nada, mas eu leio direitinho o seu relójo uma vez por mês e sou amigão dos cachorro, trato tudo eles que nem gente. A caixinha de natal é o momento cristão e bem-vinda de coração e alem do mais ajuda na leitura certa o resto do ano. Data da próxima leitura e entrega do ano bom: dezessete do corrente, tenho o crachá pessa que eu mostro. Agradecido Zezão em ritimo de gingobel
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Não se confunda com outros que fazem passar-se por nós, os seus lixeiros de todos os dias inclusive feriado e finado. Por isso pedimos e meressemos o bom princípio. Somos os lejítimos Janelson, Totonho, Rudisson e Rixacleiderman (o popular Rixa). Se outros baterem, faça que não escuta e espere nós passar (lembramos que passaremos dia 23 de manhã como costume).
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Desejamos um feliz natal
E um ano novo muito agradável
São estes os sinceros votos
dos seus coletores de lixo reciclável
Não se esqueça do nosso bom princípio. Faremos a coleta amanhã.
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O senhor ja parou pra pensar, bem como sua(s) dignissima(s) família(s), como seria sua vida sem ver as oferta do supermercado e do varejão, pois é muito sem graça que seria sem os folheto que eu deixo na caixa de correspondença. Fico feliz com o presente vosso pode ser moeda.
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A boa notícia pra mim vai ser receber uma caixinha bem gorda. Conto com você do mesmo jeito que você conta comigo pra receber o seu jornal de todos dia.
Ari, o entregador
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Fui eu que cubri as féria do Ari, no mês 6 do corrente. Espero ganhar pelo menos o valor de um doze avo do tanto que você vai dar pra ele. Esse é o desejo do Jonas, o entregador que vem no lugar do Ari nas féria e tamem quando ele bebe muito e não concegue levantar cedo.
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Sou o dono da gráfica rápida que fez os cartões. Espero que o ano que se inicia comece magnífico e termine espetacular e aproveitamos o ensejo para divulgar que o milheiro de cartão de visita está em promoção especial de 49,90 obrigado.
(*) Redator publicitário há mais de 20 anos, cronista de várias revistas eletrônicas, entre as quais a “Paradoxo”
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