Evelyne Furtado (*)
Ivo viu a uva. Ele viu a viúva. Viu e escreveu sobre a viúva em maiô preto com seu filho na praia. Ele também observou o homem nadando. Ele via e descrevia a vida como poucos.
Rubem Braga "será", segundo Millôr Fernandes, "um dos cinco melhores escritores brasileiros do futuro". A frase está na sua página da revista Veja de janeiro último. Braga morreu em 1990.
Com esse aparente anacronismo o mestre Millôr aponta, ao meu ver, a injustiça cometida contra o escritor capixaba, simplesmente por ele ter escolhido a crônica como forma de expressão literária.
Preconceito bobo como a maioria dos preconceitos é, pois Rubem Braga falava do cotidiano com raro lirismo em tom corriqueiro e fluente.
Foi grande exatamente por não ser rebuscado, afinal, quem usa muitos adornos dá a impressão de querer preencher com palavras a falta de conteúdo. Braga não precisava de tais adereços.
Conheci Rubem Braga na coleção “Para Gostar de Ler” na companhia de Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Drummond e Otto Lara Rezende. Um cuidado de pai para a filha que já gostava de ler, mas que lia qualquer coisa que lhe caísse às mãos.
Assim, fui conhecendo Cahoreiro de Itapemerim, o Rio de Janeiro de outra época (como já havia feito com Machado), o mar, o menino e o passarinho.
Retornei a Braga, através da observação de Millôr. Encontrei “A Viajante” um terno recado em crônica. Um aviso poético. Uma página somente, mas onde se vê o grande escritor que escolheu o gênero que lhe caiu muitíssimo bem.
(*) Cronista e poetisa em Natal/RN
quarta-feira, 25 de março de 2009
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