segunda-feira, 20 de abril de 2009

Os conversadores, por Risomar Fasanaro

Risomar Fasanaro (*)



Apresentar um espetáculo de poesia é um desafio. Envolver o público e torná-lo participante parece-nos mais difícil ainda. Mas é a isto que o poeta Cacá Mendes e o músico Edson Tubinaga se propõem em Os Conversadores que estréia no dia 25 no Teatro Gloria Rocha em Jundiaí.

Trata-se de uma apresentação diferente, em que os dois falam música e executam suas composições e poemas junto com o público, em um espetáculo simples, divertido e comunicativo.

No show, músicas famosas servem de ponto de partida a uma ou outra música falada pela dupla. Algumas delas servem de pretexto para produzir música com partes do corpo como a língua, a cabeça.

Os dois artistas brincam com o público, convidando-o a falar porque, segundo eles palavra presa não dá, e palavra não é presidiária, não cometeu crime, não matou, não roubou...

Em um momento do espetáculo eles convidam o público para entrar em cena e participar de um breve sarau, em que as pessoas poderão falar poesia, contar uma historia curta, cantar e até dançar, porque nesse espetáculo qualquer um pode ser artista.

Um dos pontos altos do espetáculo é quando os dois apresentam a Canção do Elogio, composição dos dois artistas, e que é uma releitura da Canção do Exílio do poeta maranhense Gonçalves Dias. Nesse poema, as pessoas sentem saudade não de sua terra natal, mas do consumismo, dos shoppings e dos belos olhos de um amor que perdeu em outro lugar.

Os dois se despedem do público com o que Cacá e Tobinaga chamam de Rap End, quando revisitam apenas um verso do poema Café com Pão de Manuel Bandeira.

Este espetáculo me chamou a atenção porque é notória a dificuldade que a poesia enfrenta nos mais diversos locais. São raras as editoras que publicam poesia. Na escola são poucos os professores que a levam aos seus alunos. Uns assumem claramente não gostar de textos poéticos, outros falam da dificuldade que consiste em trabalhar com poesia em sala de aula, e isso é lamentável porque poucos textos agradam tanto a crianças e adolescentes, como os poéticos.

Mas é claro que para isso é preciso que o professor se exercite, leia, procure conhecer alguns poetas e suas obras, só assim descobrirá o sabor que só um bom poema produz na alma. Quem sabe a partir daí passe também a gostar, pois isso facilitará a transferência do seu entusiasmo às outras pessoas.

Os professores encontrarão em Os Conversadores um jeito simples de envolver o público, e a partir daí quem sabe poderão encontrar seu próprio caminho, aquele que tem a ver com seu jeito e passem a trabalhar com poesia.

O espetáculo tem direção cênica, figurino e programação visual de Joseane Alfer; as composições musicais são de Tobinaga e Cacá, sendo uma delas em deste último com a cantora e compositora Graziella Hessel. A produção executiva é de Antônio Carlos Fernandes e a produção é da Motiva Produções e Evento.

Para conferir.... (tatatata) (re)estréia do espetáculo vai ser(á) no dia 25, no Teatro Gloria Rocha, em Jundiaí, São Paulo.

(*) Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.

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