"Os homens querem ir à lua, mas não se interessam pelo coração humano".(Fala de Marilyn Monroe no livro Marilyn “As ùltimas Sessões”).
”Marilyn ùltimas Sessões”. Comprei por impulso. Já estava com outro livro na mão quando meus olhos pousaram no volume de capa escura com uma foto de Marilyn Monroe, sorrindo sutilmente com um cigarro na mão.
Li a orelha falando sobre o autor Michel Scheneider. Psicanalista francês, escritor premiado que entrelaça, no romance, o relacionamento da atriz com seu psicanalista Ralfh Greenson nos dois últimos anos de vida da atriz.
Não tinha como errar na aquisição. Adoro biografias e a psicanálise é um assunto a mim muito interessante, apesar de conhecê-la pouco.
Comecei a ler, porém o autor não me seduziu a princípio. Acredito que a tradução tenha prejudicado a narrativa. Deixei o livro, marcado e dediquei-me à leitura de outro que já havia iniciado.
Quando encerro a leitura de um livro envolvente sinto um vazio. Como se um amor fosse embora. Despedi-me dos personagens queridos e naquela mesma noite ganhei um brinco cuja a embalagem trazia o nome da loja: Nunca Fui Santa.
Ao me recolher, tarde da noite, retornei a “Marilyn Últimas Sessões”, exatamente no capítulo em que o autor se referia às filmagens de “Nunca Fui Santa”, filme no qual Marilyn atuou. Não parei mais de ler e mergulhei na alma de Norma Jeane Baker, a menina perdida que se tornou o maior mito sexual da história moderna.
Se antes me comovia sua morte precoce, aos 36 anos, no ano em que nasci; hoje me espanto por Marilyn Monroe ter resistido esses anos todos, diante da fragilidade de sua estrutura emocional.
Sua alma era de uma sobrevivente, a despeito do glamour e da sexualidade aparente. Reiventou-se, descolorindo os cabelos e adotando um novo nome, deixando de ser Norma Jeane para se tornar Marilyn Monroe.
Tentou apagar anos de rejeição, ocasionados pela doença mental da mãe que a abandonou e pelas passagens por orfanatos e por várias famílias, onde foi abusada por pais adotivos, com a troca de sexo para obter amor em sua vida adulta.
Marilyn teve muitos homens, entre eles: Joe DiMagio, jogador de basebol e Arthur Miller, dramaturgo, com quem se casou. Teve casos com Elia Kazan, Frank Sinatra, Ives Montand e, finalmente, com os irmãos John e Bobby Kennedy.
Mas, o livro aborda superficialmente esses relacionamentos. O autor explora a relação de dependência total entre a paciente e o psicanalista Ralph Greenson, revelando o caos emocional da mulher por trás da imagem. As estrelas são fascinantes e tentamos descobrir o que existe além do brilho. É então que atua a psicanálise adentrando e revelando, mais de quarenta anos após a sua morte, a alma da mulher que lutou para fugir do estereótipo que Hollywood criara para ela: loura, sexi e boba.
Marilyn Monroe não era pouco superficial. Embora amasse sua imagem, a estrela lia bons autores, preocupava-se em aprender e se aprofundava em seus fantasmas para se livrar deles.. Foi analisada inclusive por Ana Freud e citou Joyce em fitas que deixou para o seu Doutor.
Era uma criança órfã em um corpo de mulher que amadurecia, que tinha medo e que era incrivelmente só. Entupia-se de barbitúricos, anfentaminas e outras drogas para se manter viva.
Greenson não conseguiu salvá-la da dor e do vazio que a perseguia, apesar de ter, por dois anos, tomado conta de todos os aspectos da vida da mocinha que se tornara atriz para sobreviver a si mesma. O autor deixa claro, no entanto, que não havia relacionamento sexual entre eles.
A leitura tem um lado pueril por revelar um pouco a intimidade de alguns mitos do cinema e da política dos anos sessenta, porém é mórbida. E não tinha como escapar disso, pois a iniciamos sabendo como foi trágico e ainda incompreendido o fim da vida de Marilyn.
O mito superou a mulher, que em agosto de 1962 sucumbiu ao desespero não se sabe se por acidente ou se por intenção. Ainda hoje as fotos de Marilyn Monroe são disputadas em leilões e seu rosto é conhecido até pelos que nasceram muito depois de sua morte.
Depois do livro, sugiro uma nova sessão de “O Pecado Mora ao Lado”. Volta-se, então, à ilusão que o cinema criou.
"Ela ficava em polvorosa enquanto a paz não fosse restabelecida"(Do relatório do Dr. Greenson a Ana Freud). (*) Cronista e poetisa em Natal/RN.
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