segunda-feira, 10 de novembro de 2008

E ela despediu-se de si, por Renata Alves

Renata Alves (*)



A dor era indescritível, como se um punhal houvesse sido cravado em seu peito. Sentia-se esvaziar, paulatinamente, como se aquela sensação nunca fosse acabar – talvez uma tática para nunca ser esquecida.

Olhou-se no espelho e não mais se reconheceu. De repente, viu a mulher forte que levou anos para construir, cruzar a porta sem olhar para trás.

Sentiu-se ninguém, sentiu-se alguém, sentiu muito, sentiu-se nada. E pensava...

Aquela que um dia disse nunca se resignar e abrir mão de seu ponto de vista, fechar os olhos ou silenciar-se para agradar a outrem. E pensava.

Dizem que algumas mulheres fazem coisas verdadeiramente insensatas por amor e dizem também que aquelas que não o fazem é porque nunca amaram. Duvidar? Acreditar? Ela simplesmente não sabia. Naquele momento apenas uma certeza: por ora basta.

Movida pela sua paixão deixou-se levar e permitiu-se, melhor, obrigou-se a abrir mão de algumas de suas convicções.

Valeria a pena? Não sabia, apenas pensava: por ora basta.

E a dor cresceu, cortou, rasgou, feriu. As lágrimas rolaram e ela chorou. Disse adeus? Não. A mulher, na verdade, não se foi, apenas se ausentou para melhor ser notada.

Palavras sem sentido de uma mente desconexa. Apenas uma visão pragmática dos fragmentos da vida.

(*) Jornalista

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