quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Notícias do coração, por Fábio de Lima

Fábio de Lima (*)



Sentei no sofá, de frente para a TV. Ela estava desligada. Fiquei olhando para aquela tela escura por quase quinze minutos. Na verdade, fiquei parado diante da TV, desligada, por quase duas horas, mas sinto até vergonha em dizer isso. Parecia coisa de louco. Mas não era. Aquilo era amor. Eu amava Marina e saber do casamento dela foi um choque para mim. Eu sabia que ela casaria um dia. Eu sabia que não seria comigo. Mas entre imaginar e deparar com a realidade existia uma distância grande.

Levantei do sofá e senti o rosto grudento das lágrimas que escorreram e secaram. Subi para o quarto e deitei na cama. Olhei para o teto até adormecer. Só acordei no outro dia, às 8h00 da manhã. Meu corpo estava dolorido. Até parecia que eu havia levado uma surra. Pensei em Marina, assim que levantei, e também durante todo o restante do dia, enquanto pisava sobre meus calcanhares pelas ruas paulistanas.

Voltei para casa somente à noite e sentei novamente na frente da TV. Mais uma ou duas horas olhando aquela tela escura. Não sei. Acordei no outro dia e percebi que havia dormido no sofá mesmo. Tomei um banho em silêncio, me troquei e fui embora para mais um dia de devaneios. O sol já ardia a pele quando sai de casa. Senti o suor escorrer tímido pela testa. Senti a dor andando comigo lado a lado.

Foi assim que envelheci um ano em um mês. Foi assim que envelheci seis anos em seis meses. Foi assim que envelheci doze anos em um ano. Os amigos falavam que eu estava magro demais, chato demais, melancólico demais. Eu não sei como estava – só sei que sentia a falta de Marina e isso doía muito. O tempo passou e eu vivi minha vida. O calendário nasceu e morreu por mais de vinte invernos. Na semana passada o telefone tocou e uma voz conhecida falou comigo.

Marina se separou faz oito meses. Ela ligou para saber como eu estava. Disse que estava com saudades de conversar comigo. Disse que tem visto meus livros nas livrarias de todo o País e nas mãos das pessoas. Falou ter gostado muito do meu último livro. Disse que minha literatura amadureceu e que depois que se começa a ler um livro meu, só se pára na última página. Sorri ao telefone e fingi acreditar em tudo que ela me disse.

No último final de semana eu sentei no sofá e liguei a TV. Lá estava passando um desenho do Tom & Jerry. Fiquei dez minutos dando risadas e me sentindo muito feliz por fazer coisas tão simples e sentir prazer com elas. Tenho pensando muito sobre as coisas do coração e espero que Marina encontre o seu caminho. O meu sei que não é ao seu lado e sigo bem sozinho, mesmo que meu coração ainda teime em saber notícias.

(*) Jornalista e escritor, ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.

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